
Por: Ulisses Passos. Acadêmico de Direito, Pan-Africanista e Presidente do CNNC/BA. Pseudônimo: Aswad Simba Foluke. E-mail: ulisses_soares@hotmail.com
Vivemos em uma
sociedade onde os valores cristãos-brancos sejam católicos ou protestantes são considerados “superiores e civilizados” e os valores africanos são tratados como inferiores e atrasados, a continuidade de uma sociedade dicotômica herdada: senhores brancos cristãos X escravizados pretos não cristãos। E o poder e meios de produção continuam nas mãos de brancos cristãos, frutos da exploração do trabalho escravizado de homens e mulheres africanas e seus descendentes.



O protestantismo quando chegou nas 13 colônias da América trazido por colonos ingleses, conhecidos como puritanos, praticantes de uma interpretação literal da Bíblia, se consideravam o “O Novo Israel de Deus", “Os Eleitos" e “diziam” possuir toda a autoridade para interpretar os textos bíblicos e vivê-los literalmente na “Terra dada por Deus”, também se consideravam expulsos da Inglaterra, governada pelo faraó, o rei inglês, e atravessaram o Mar Vermelho, nome que deram ao Oceano Atlântico, e viram os povos nativos, os aldeões coletores como as nações de Canaã que deviam ser destruídos para que eles tomassem posse da Terra Prometida. Essa mesma visão puritana veio com os missionários norte-americanos para o Brasil e se tornou o arcabouço das igrejas evangélicas no Brasil.O racismo teológico tem uma das suas origens na racialização da Bíblia e na prática do cristianismo eurocêntrico pelos Puritanos, dogmatizando a teologia, corrompendo a exegese e a hermenêutica, embranquecendo e ocidentalizando para usufruir através do tráfico mercantilista a exploração de civilizações livres e primevas africanas e destruição de civilizações nas Américas.

Os puritanos se consideravam e ainda se consideram através de seus seguimentos pelo planeta como os herdeiros de Deus e donos do mundo,torna-se interessante o texto abaixo e as interpretações dos Puritanos abalizando o direito de escravizar os africanos."E quanto a teu escravo ou a tua escrava que tiveres, serão das gentes que estão ao redor de vós; deles comprareis escravos e escravas.Também os comprareis dos filhos dos forasteiros que peregrinam entre vós, deles e das suas gerações que estiverem convosco, que tiverem gerado na vossa terra; e vos serão por possessão perpetuamente os farei servir" – (Levítico- 25: 44-46).A falsa interpretação teológica dos puritanos dos textos bíblicos foi usada como certidão de posse do planeta e de seus habitantes. Dentro do protestantismo especialmente o Reformado no final do culto o pastor abençoa a comunidade e ouvi diversas vezes as seguintes palavras:- O amor de Deus Pai, a Graça de Deus Filho e as Consolações do Deus Espírito Santo, sejam com todos vós e com todo o Israel de Deus espalhado pela face da terra.A idéia do “Novo Israel” é uma prática puritana de interpretação bíblica e sê-lo é deter uma nova Canaã literalmente falando, sendo assim, os puritanos se sentiam abençoados e cumprindo a vontade divina, só que este Novo Israel era habitado nas Américas, Oceania e na África por populações pretas as quais foram condenadas a uma vida de inferno. A escravidão tornou-se um decreto divino, porque os puritanos brancos se consideram predestinados a herdarem a terra, sendo formulada uma proposta terrena de uma Nova Canaã Branca e protestante, impondo as suas filosofias deformadas e praticas racistas pelas elites no poder e repetidas pela população branca e pobre, conseguintemente na iconografia religiosa, nas teologias, na estética, nos meios de comunicação, na relação capital X trabalho, nos livros didáticos, e especialmente no poder político que afeta o direito a vida e do bem comum dos africanos e seus descendentes.As graves conseqüências da “idéia de um novo Israel branco e Puritano”, além da pilhagem, exploração e escravidão fizeram com que surgissem as maiores aberrações raciais nos Estados Unidos da América e na África do Sul, legislações baseadas na idéia de uma “Nova Canaã Branca”: leis conhecidas como Jim Crow, as quais você pode acessar lendo o artigo no blogger do CNNC/BA e a instituição do Apartheid na África do Sul. O racismo é uma ideologia fomentada pela população branca no planeta e introjeda dentro da população preta através da religião cristã, ser preto e cristão, sem o conhecimento do panafricanismo, do afrocentrismo e do cristianismo de matriz africana é coadunar com a exploração e ser repetidor da opressão ideológica e da racialização bíblica।O cristianismo surgiu na África e onde estão às igrejas mais antigas do planeta e infelizmente os caucasianos se apropriaram de terras, menos da Etiópia, a qual nunca foi escravizada e é detentora das igrejas cristãs mais antigas da história do cristianismo।Nós do CNNC sabemos que temos uma longa trilha a percorrer para alertar com voz profética que o cristianismo europeu e sua ideologia de uma nova Canaã são anti-bíblica e baseada no racismo।O CNNC (Conselho Nacional de Negras e Negros Cristãos) tem a sua presença nas discussões do Movimento por fazer parte da sua proposta de atuação o Panafricanismo. O CNNC é uma organização Cristã no Movimento Negro e não um grupo separado de Movimento Negro Evangélico. Um só Povo e um só luta.Uma das preocupações do Movimento Negro Brasileiro é construir uma proposta de poder para a maioria da população; surgem incipientes idéias de partidos políticos que desejam partidarizar o movimento e colocam os seus representantes, as vozes dos grupos oprimidos sexualmente, das mulheres, da juventude, de representantes religiosos, etc. Sendo uma “novidade” ainda não digerida por muitos militantes a presença nas discussões dos chamados evangélicos, digo “novidade”, porque os chamados evangélicos sempre estiveram no movimento negro, apenas não assumiam essa postura, por medo e vergonha da grande maioria, por saberem da culpabilidade do cristianismo deformado pelos europeus, e sendo seus seguidores, não ousavam contestar o racismo das igrejas protestantes, sendo eles mesmo vítimas. Sendo um dilema de muitos pastores e membros pretos assumir a sua identidade de africano no Brasil, temendo desagradar as Estruturas Eclesiásticas as quais ajudam a manter. A maior prisão é a mental.Infelizmente, dentro do mundo protestante brasileiro alguns pastores pretos ainda legitimam a escravidão nos seus escritos quando tentam dirimir leis do Primeiro Testamento e repetem interpretações errôneas expondo literalidade dos textos bíblicos. Nenhum tipo de escravidão fez parte dos planos de Deus para a humanidade e quando observamos as vozes dos profetas condenando as vontades humanas, entendemos que as leis de exploração do homem pelo homem eram vontades de pessoas presunçosas e afastadas de Javé. A escravidão nunca foi corroborada pelos desígnios de Deus e não podemos amenizar a maior covardia e genocídio praticado contra os nossos ancestrais. O Senhor não predestinou nenhuma pessoa preta, seres originais criados a imagem e semelhança Dele, para ser escravizada por qualquer europeu e seus descendentes, eles foram seqüestradores e o que foi nos roubado tem que ser devolvido; o termo reparação e cotas devem ser mais bem trabalhados por aqueles (as) que tentam fazer verdadeiramente uma teologia preta, a qual tem tido uma bela interpretação através do teólogo Kefing Foluke.Os praticantes da escravidão violaram todos os mandamentos divinos e rasgaram o Sermão do Monte e literalmente prestarão contas dos seus atos no dia do Juízo Final, porque usaram o nome do Eterno para invadir, seqüestrar, escravizar e matar os seres originais e continuam afastados do evangelho. O Povo Preto tem a promessa do Reino de Deus conforme as palavras de Yeshua no Sermão do Monte:
Felizes os que têm fome e sede de justiça, porque serão saciados.E a justiça tem que ser conquistada, não cai do céu, é uma construção e luta diária de todos e todas. Uni-vos povo preto em luta pela justiça.
Felizes os que têm fome e sede de justiça, porque serão saciados.E a justiça tem que ser conquistada, não cai do céu, é uma construção e luta diária de todos e todas. Uni-vos povo preto em luta pela justiça.
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